Picas,
quando é que a música entrou na tua vida?
Eu acho que a música sempre fez parte da minha
vida. Acho não, tenho a certeza. Já quando era criança ficava muito fascinada
com a música. Por isso eu sempre tive essa, podemos dizer, predisposição. A
primeira memória que eu tenho é com música. Os meus pais foram viajar para o
Brasil, eles levaram-me, eu era bem pequenina e a primeira memória que eu tenho
é de ouvir uma menina a cantar no Brasil. Lembro-me de quando era pequenina de
ficar horas sozinha em casa a meter os CDs dos meus pais a tocar e a ouvir e já
assim em pequena a perceber o que é que eu gostava e o que é que eu não gostava
e a dizer à minha mãe quais é que eram os discos dela que eu gostava e quais é
que eu não gostava. E então já tinha essa predisposição de gostar muito de
ouvir música, de ser uma coisa que me fascinava, que eu ficava ali horas a ver
e que tinha muito interesse.
Segundo
sei, gostas mesmo é de escrever canções e fizeste na pós-graduação em
storytelling. Fala-me desse teu outro lado de artista.
Sim, então, eu só comecei, porque,
aqui até é um bocado no seguimento da outra pergunta também, eu só comecei a
estudar música muito tarde, na minha família ninguém toca nada, ninguém é nada
musical. E eu fiz ginástica de alta competição, então também não tinha tempo
para estudar música. Só fui estudar música na faculdade. Aquilo que eu
realmente desenvolvi mais ao longo da minha vida é que eu sempre adorei
escrever. O português sempre foi a minha disciplina favorita e eu adorava
escrever. E quando eu comecei a meter-me mais na questão da música, foi porque
queria contar histórias. Os artistas que eu ouvia mais eram pessoas que eu
sentia que contavam histórias muito bonitas através da música. E então eu
sentia que queria fazer isso. E só peguei numa guitarra pela primeira vez já
com aquela coisa de que queria escrever. Sempre fui aquela miúda que andava com
o diário atrás, a escrever tudo, que inventava histórias, que realmente gostava
muito de escrever e foi por isso que fui para a Ciências da Comunicação, porque
achava que queria ser jornalista. Depois percebi que não, que não queria ser
jornalista. Fui estudar música ao mesmo tempo, quando estava em Ciências da
Comunicação, estava a fazer o curso de Jazz no Hot Club e depois decidi,
passado uns tempos, ir fazer então a pós-graduação em Storytelling, para mim, é
aquilo que une tanto aquilo que eu estudei na comunicação, como o universo da
música.
O
teu novo single "Tatuagens" foi composto à guitarra, geralmente é assim que
começas as tuas composições?
Depende um bocadinho. Eu tenho um método que
varia muito. Eu normalmente, quando começo a compor, gosto de compor sozinha.
Porque é uma coisa muito íntima para mim e eu sempre que escrevo, escrevo sobre
temas muito pessoais, ou seja, vou mesmo a sítios... é quase um processo de
terapia e então às vezes parece que não consigo chegar a esse sítio se não
estiver sozinha. Então, muitas vezes eu gosto de estar a compor mais sozinha,
pode ser tanto à guitarra como ao piano, mas às vezes também acontece ser numa
situação em que não estou com nenhum instrumento à mão e escrevo simplesmente
umas notas no telemóvel e gravo num dictafone. Eu tenho um trabalho que é fora
da música e muitas vezes dá-me uma ideia a meio do trabalho, tenho que ir para
a casa de banho gravar as escondidas no dictafone, porque as ideias aparecem às
vezes nos momentos mais estranhos e a inspiração pode aparecer de coisas mesmo
do quotidiano.
Tens
um novo single, chama-se Tatuagens. Gostas de tatuagens. Tens alguma?
Eu gosto muito de tatuagens. Eu acho
muito bonito corpos tatuados. Gosto muito. Acho muito giro essas histórias que
as pessoas tatuam no seu corpo. Acho muito giro essa ideia de que o corpo é
quase como uma tela e as pessoas escolhem o que desenham lá. Eu tenho duas
tatuagens só. Só não tenho mais porque sou um bocadinho mariquinhas. Mas eu
acho super bonito e gostava de fazer mais, mas ainda não fiz mais.
Quem
trabalhou contigo neste novo single?
Este single quem produziu foi o
John, que é a pessoa que está a trabalhar o meu disco neste momento, na
verdade. Nós começámos a trabalhar há cerca de dois anos juntos, e na verdade,
passado um ano de trabalharmos juntos, namoramos agora. Conhecemo-nos a
trabalhar e agora estamos juntos e trabalhamos juntos. E conhecemo-nos muito
bem e por isso, não sei, acho que corre bem trabalharmos juntos e que chegamos
a um sítio e a uma sonoridade com a qual eu estou muito contente.
Depois
deste single vem aí um álbum?
Sim, vem um álbum.
É
o que podemos esperar de ti para este 2024? E muitos concertos?
Sim, espero que sim. Concertos a
anunciar.
O
2023, como é que foi? Chegaste a fazer muitos espetáculos.
Estiveste,
por exemplo, no Festival F, e nos Jardins do Marquês, não foi?
Sim, não é que tenha tido imensos
espetáculos, mas... tive em sítios grandes. Estive a tocar pela primeira vez em
festivais. Toquei em dois, nos Jardins do Marquês e no Festival F. E foi giro e
importante para mim e acho que aprendi muito porque na realidade eu só tinha
nesse momento lançado três singles, ou seja, claro que o meu concerto tinha
muitas músicas que ainda não saíram e foi giro para, "entre aspas", testar
algumas das canções e fiquei a perceber muitas coisas. Por exemplo, havia
algumas músicas que eu não estava a pensar pôr no disco e que depois percebi
que eram as favoritas quando realmente fui tocar para o público e estas coisas
às vezes nós achamos que sabemos o que é que o público vai gostar mais ou
menos, mas depois só em concerto é que percebemos e também é muito bom rodar as
canções. Houve muita coisa que eu percebi que queria, por exemplo, produzir de
uma certa maneira, ou seja, eu acho que o facto de eu ter estado a tocar o
disco antes dele sair ao vivo, beneficiou o disco que agora está gravado.
Os
próximos tempos como é que vão ser? Vem um álbum ou antes do álbum ainda vamos
ter alguns singles?
Ainda vamos ter alguns singles, porque o
"Tatuagens", que é este single que lancei agora, faz parte de uma trilogia.
Porque lá está, sou do storytelling, gosto de contar histórias. E estes três
singles, que é o "Tatuagens", "Última Vez" e "Promessas", contam uma só
história. E tem três videoclipes que também contam só uma história. Então eu
vejo assim cada um quase como um capítulo desta história e depois o disco, que
é a história completa. Já está tudo planeado, já está tudo gravado. E temos
dois singles que ainda vêm, que é a continuação da história deste "Tatuagens".
E eu gostei muito de fazer estes vídeos também, agora um à parte, porque lá
está como eu estudei Ciências da Comunicação e especializei-me em Cinema,
Storytelling, como falámos. Foi muito giro, porque eu nestes vídeos estive
mesmo muito envolvida em todos os detalhes, escrevi os guiões e andei a trocar
ideias com o realizador. Escrevi mesmo os guiões e estive mesmo envolvida nos
conceitos e nas ideias. Então eu sinto que estes vídeos acrescentam muito à
canção também. E que é um trabalho, assim, audiovisual bastante complexo.