Foram cinco anos de interregno desde o último álbum até a este que agora estreia, mas música nova de Bispo não nos faltou durante esse tempo. É que, para o rapper de Algueirão-Mem Martins, editar um álbum ainda é coisa séria. E Entre Nós, disco que sucede a Mais Antigo (2020), é a derradeira prova de que o artista nunca pôs em causa a sua arte para chegar onde chegou. Hoje acarinhado por um público muito para além do hip-hop, manteve-se fiel à sua identidade vincada pelo rap mais honesto que o panorama nacional já ouviu. E tem sido essa sinceridade nas palavras que canta a chave de todo o seu sucesso.
Entre Nós, terceiro longa-duração de estúdio do fundador do selo Mentalidade Free, não só transparece todo o processo de amadurecimento artístico que Mais Antigohavia inaugurado, mas também expõe o carácter introspectivo de Bispo no esplendor das suas capacidades. Sempre confessional no tom, ao longo de 16 faixas o rapper tanto reflecte acerca da sua história mais pessoal como versa sobre o percurso que o conduziu até aqui — com tónica na superação de mãos dadas com uma gratidão acentuada por tudo o que conquistou.
Reunido novamente com Fumaxa (um dos seus mais próximos colaboradores de longa data, com quem editou inclusivamente Fora D'Horas, em 2017), é a par do célebre produtor que, em grande parte do álbum, Bispo põe mão na massa no que toca à produção propriamente dita. Ao lado de uma série de músicos — dos incontornáveis aos mais improváveis (desde Benjamim Epps a Olavo Bilac) — a enriquecerem o alinhamento deste trabalho, é confortavelmente fora de pé que o ouvimos em diferentes registos melódicos, sem no entanto fugir às idiossincrasias que fazem dele um dos artistas mais queridos pelo público português. Os três concertos sucessivos que deu no final do mês passado, entre os Coliseus de Lisboa e Porto completamente lotados, são paradigmáticos de toda a forma como tem vindo a pautar a sua carreira: invariavelmente comprometido com a sua cada vez mais expressiva e aguerrida legião de ouvintes, que retribui em dobro toda a dedicação que cada canção espelha. Entre Nósé, antes de tudo o mais, a melhor tradução dessa relação entre ambas as partes.